Sem se perturbar
Findava a tarde.
A jovem, apressada, dirigia-se ao ponto de ônibus para apanhar a condução que a levaria para a faculdade.
Horário apertado.
Saíra do trabalho e quase corria.
À distância, viu o ônibus se aproximar e apressou o passo.
Mas, no exato momento em que se dispunha adentrar o ônibus, as portas se fecharam, com estrondo.
Pelo espelho da frente do veículo, ela pôde verificar o sorriso, que lhe pareceu de deboche, do motorista, como a dizer: Neste você não entra.
Perdeu!
Ela se irritou e em voz alta, exclamou: Que maldade!
Ele me viu.
Não podia ter esperado um segundo?
Um rapaz, que vinha logo atrás, sorriu e falou: Não se estresse.
Pense que logo virá outro ônibus.
Eu sei que logo virá outro.
Acontece que cinco minutos a mais podem fazer com que eu chegue atrasada à aula.
E tenho prova, no primeiro horário.
Ele continuou: Não se irrite.
Vai dar tudo certo.
Pense que virá outro ônibus, que não estará tão cheio quanto aquele.
Que o motorista será mais gentil.
Consequentemente, sua viagem até o destino será muito mais agradável.
Você chegará mais tranquila para a prova.
Ela olhou para o jovem, que continuava a sorrir, e disse: É, você tem toda razão.
Não tardou e apontou outro ônibus.
As portas se abriram e ambos entraram.
Que legal, disse ela.
Está mesmo quase vazio.
Poderei ir sentada e acho que chegarei em tempo.
Obrigada.
Cada qual procurou um assento e se acomodou.
Enquanto a condução ia vencendo a distância, num contínuo parar, embarque e desembarque de passageiros, ela se pôs a pensar.
Nossa!
Quase me estressei por nada.
Bendito rapaz que me alertou, e conseguiu mudar meu humor.
Agora, vou chegar tranquila, em tempo.
E estarei calma para fazer a prova.
Bom seria que houvesse mais gente como ele.
Gente que nos acalma, que nos contagia com sua forma tranquila de falar e de encarar os fatos.
* * *
Quantas vezes nos irritamos por bagatelas, por coisas pequenas.
Quantas vezes assinamos recibo pela grosseria do outro e acabamos estragando nossas horas seguintes.
Melhor mesmo é modificar nossa forma de pensar.
Perdemos a condução?
Não tem problema.
Logo virá outra.
O temporal nos surpreendeu no meio do caminho?
O melhor é procurar um abrigo e aguardar os ventos e a chuva amainarem.
Nada na face da Terra é para sempre.
Tudo é impermanente.
O dia sucede a noite escura.
As estrelas brilham nos céus quando o sol se põe no horizonte e a lua chega, mostrando a sua cara redonda.
O calor inclemente é vencido pelos ventos e pela chuva.
O frio terrível é substituído pela estação primaveril, que traz o renascer das cores e dos perfumes.
Nada é definitivo neste planeta.
Nem a própria vida.
Impermanente.
Hoje estamos aqui, amanhã, poderemos estar em outras bandas.
Ou talvez já ter migrado para a Espiritualidade.
Quem pode saber?
Somente Deus!
Por isso, vivamos cada minuto em totalidade e não nos desgastemos por coisas tolas, que têm duração efêmera, que logo passam.
Pensemos nisso.
E vivamos mais tranquilos, menos nervosos, mais felizes.
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